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O Globo: Neto de Figueiredo era sócio de Trump

Matéria do jornal O Globo, assinada por André Miranda em dezembro de 2015 (antes da eleição de Trump e Bolsonaro), já evidenciava o que viria a ser o pensamento conservador, ultraliberal, que tomou conta dos EUA e do Brasil após as vitórias do empresário norte-americano e do ex-capitão

POR ANDRÉ MIRANDA, O Globo

RIO — Foi em 2012, num clube de golfe em West Palm Beach, na Flórida, que o carioca Paulo Figueiredo Filho conheceu seu mais ilustre sócio. Figueiredo almoçava com Ivanka Trump, a filha do magnata republicano Donald Trump, candidato às eleições presidenciais americanas, famoso por seu topete escorrido para o lado e pelas posições políticas radicais de direita. Trump chegou ao clube de helicóptero e foi apresentado pela filha a Figueiredo de um jeito bem direto: “O avô do Paulo foi presidente do Brasil, e ele também é bem conservador”.

Como o sobrenome sugere, Paulo Figueiredo Filho é neto de João Figueiredo (1918-1999), o último presidente do regime militar brasileiro. E, como avisou Ivanka, ele é um liberal conservador, com gosto para polêmica tanto quanto Trump. Aos 33 anos, ex-assessor especial do prefeito Eduardo Paes, entre 2009 e 2010, e empresário do mercado imobiliário, Figueiredo é jovial e brincalhão, mas não esconde suas posições políticas e nem economiza nas palavras para expô-las. Em uma hora e meia de entrevista, ele chamou Dilma Rousseff de “jumenta” e Aécio Neves de “bunda-mole”. Disse que os movimentos de minorias “precisam ser massacrados”, que universidades e jornais do mundo foram ocupados pela esquerda por ação da KGB e que a “era dos moderados chegou ao fim”.

— Nunca vi na História os moderados fazerem a diferença. Moderados não fedem nem cheiram. Marina Silva diz que Lula e Fernando Henrique são legais e ruins. Que café é bom com açúcar e com adoçante. Não é assim que se resolvem os problemas do mundo — disse o empresário, em seu escritório na Barra, decorado com um boneco em miniatura de Trump.

O empresário Paulo Figueiredo: ‘moderados não fedem nem cheiram’ – Fernando Lemos / Agência O Globo

CRÍTICAS AOS JORNAIS

Nos últimos anos, Figueiredo ganhou exposição pelos negócios com Trump. Depois do encontro na Flórida, eles se tornaram sócios no Trump Hotel Rio, que será inaugurado em 30 de março, numa área de três mil metros quadrados, na Praia da Barra. Além do mais luxuoso do Brasil, será um dos mais caros: para as Olimpíadas, todos os 170 quartos do Trump Hotel já estão reservados, e a suíte presidencial será ocupada por um empresário chinês que pagou US$ 1 milhão por 22 dias.

— Eu acho que o Brasil vai continuar em depressão profunda no ano que vem, mas o segredo de uma crise é você explorar as oportunidades. No setor hoteleiro, a alta do dólar é benéfica. Cerca de 60% dos meus hóspedes serão estrangeiros, dispostos a pagar uma diária de US$ 400, US$ 500, no mínimo — diz Figueiredo. — O turismo no Brasil é mal explorado. Joaquim Levy deveria parar de querer aumentar impostos e sugerir um plano para fomentar o Brasil como indústria hoteleira. Era só liberar o visto para os americanos. Se tivesse um pedido para a presidente Dilma, eu falaria assim: “Sua jumenta, libera o visto para os americanos”.

Com o anúncio formal da candidatura de Trump à presidência americana, em junho, a fama de Figueiredo aumentou e, em agosto, ele foi perfilado pelo “New York Times”. O jornal tentou opor o sócio brasileiro aos comentários de Trump contra a intensa imigração latina nos EUA. Mas ele não só o defendeu, como compartilha de muitas de suas ideias. Seus posts no Facebook — onde condena o aborto, defende a liberação da posse de armas e chama as feministas de “feminazis” — são controversos, mas chegam a ganhar mais de mil curtidas. Recentemente, ele escreveu que muita gente gosta de seu discurso, mas não curtem para não entrar em polêmica. E sentenciou: “Só penso uma coisa: seu bundão!”

— Aquele jornalista do “New York Times” não passa mais da porta do meu escritório. Ele construiu uma reportagem distorcida. O “New York Times” é um jornal muito ruim, de extrema esquerda — reclamou Figueiredo, que mesmo assim emoldurou a página do jornal americano, ao lado de um quadro da capa da revista “Rolling Stone” com a foto de Trump. — Eu guardo as matérias ruins também. Aceito que o jornalista fale o que quiser, desde que seja correto. Mas todos os jornais têm uma tendência de esquerda muito forte. No Brasil mesmo, não há um jornal de direita. O GLOBO é de esquerda.

Figueiredo estudou comunicação, economia e filosofia. Ele tem uma filha de seis meses nascida nos EUA, é casado há sete e se declara protestante. Nas últimas eleições, votou em Aécio Neves, sem convicção. Na próxima, espera votar em Paes.

— Não achava o Aécio um bom candidato. Ele é horroroso, frouxo, bunda-mole, entregou o Brasil na mão do PT. Agora está desaparecido — diz.

Sobre os atentados em Paris, Figueiredo escreveu na internet: “Pobres civis franceses, desarmados pelos governos de esquerda. Apavorados com terroristas armados nas ruas, o máximo que podem atirar-lhes é uma baguete ou um pedaço de queijo brie”.

DEFESA DO AVÔ GENERAL

Por seus petardos, já foi ameaçado até de morte pelo que chama de “militantes de ambiente virtual”.

— Esses movimentos feministas, gayzistas, de consciência negra, sei lá qual é o nome politicamente correto… São fracos, dão impressão de que são fortes porque são organizados. Esses caras precisam ser massacrados, prestam um desserviço ao Brasil.

Para as críticas a seu avô, último presidente militar do país, tem na ponta da língua a defesa ferrenha.

— Não tem mais homem igual a meu avô. Ele assumiu o governo com o discurso de fazer do Brasil uma democracia plena — afirma, criticando a ideia da volta da ditadura. — A ditadura é um modelo que não me agrada. Mas no Brasil era uma situação de guerra.

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Economia

Há 25 anos, com Biondi, DM denunciava a privataria da Era FHC

Reconhecido como um dos maiores nomes do jornalismo econômico, Aloysio Biondi escreveu nas páginas do Diário da Manhã, nos anos de 1994 e 1995, uma das principais críticas ao Plano Real e à política de privatizações da Era FHC

Marcus Vinícius de Faria Felipe

No início dos anos 1990, o Diário da Manhã foi talvez o único jornal a remar contra a maré neoliberal. Em 1994, a convite do jornalista Batista Custódio, retornava ao DM (após uma passagem em 1980) o jornalista Aloysio Biondi. Com dois prêmios Esso em Economia, Biondi foi um dos principais críticos da política de câmbio fixo do Plano Real. Denunciou, como poucos, a farra das privatizações dos governos do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e os danos à economia da paridade artificial entre o Real e o Dólar.

A leitura dos artigos e livros de Aloysio Biondi é fundamental para os jornalistas que pretendem escrever sobre Economia. Sua obra continua atual nestes dias de política econômica protofascita e ultraliberal defendidas pelo ministro da Economia Paulo Guedes e pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Não era fácil criticar o neoliberalismo – conjunto de políticas elaboradas através do Fundo Monetário Internacional -, que propunha a redução do Estado na América Latina. Naqueles dias, o México, a Argentina, o Chile adotaram o receituário do Estado Mínimo, proposto pela “Escola de Chicago”, do economista Milton Friedman. Era a vez da América Latina pôr em prática as experiências privatizantes que Margareth Tatcher havia realizado na Inglaterra.

O Brasil, do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP), acabara de aderir às teses do Consenso de Washington, que propugnava aos governos do Terceiro Mundo a venda das empresas e bancos estatais, arrocho salarial e juros altos para conter o consumo e forçar a criação de uma poupança interna. Todos os principais meios de comunicação aderiram ao que Biondi e jornalistas como Luis Nassif batizaram como “pensamento único”.

Hoje Biondi não está entre nós, e Nassif, um dos poucos jornalistas econômicos que ainda rema contra a maré neoliberal, sofre forte ataque de Law Fare, que ameaça sua iniciativa editorial, o Jornal GGN, uma das poucas vozes contra o neoliberalismo e a necropolítica. A perseguição a Nassif está sendo denunciada por vários veículos.

Luis Nassif sofre perseguição por ser uma das únicas vozes contra o neoliberalismo

Não havia saída fora do neoliberalismo: era este o mantra estampado em manchetes todos os dias pelo Globo, Folha, Estadão e Veja aqueles anos 1990, mas o Diário da Manhã resolveu remar contra a maré. Na sua Olivetti Lexigon 80, Aloysio Biondi disparava análises mortais sobre os danos que as políticas postas em curso pela equipe econômica de FHC causavam ao país: desemprego, concentração de renda, perca de capacidade de investimento do Estado, empobrecimento da população.

Acompanhamos a trajetória de Biondi no DM com entusiasmo. Havia adentrado no DM em 1992, e a chegada de Biodi foi revigorante para todos os jovens jornalistas daquela epoca. No ano 2000, registramos o seu trabalho de crítica ao receituário neoliberal numa monografia de colação de grau no curso de Economia da PUC-GO, homenageando o velho mestre e todos jornalistas que lutaram contra o pensamento único, como nosso colega goiano,  Lauro Veiga Jardim, parceiro de Biondi em várias redações de economia e que continua sua militância jornalística nas páginas do Jornal O Hoje.

Lauro Veiga Jardim assina a coluna “Econômica”, do Jornal O Hoje

 

Remando contra a maré 

Sob a direção de Aloysio Biondi, o Diário da Manhã, assume no período de 1994 a 1995 uma postura crítica em relação à abertura econômica sem contra-partida, à política de importações sem limites e alerta para os efeitos da sobrevalorização do real sobretudo para os preços agrícolas e a balança de pagamentos. Este tipo de abordagem crítica, também seria verificada nos artigos dos economistas Delfim Netto, Maria Conceição Tavares e Luis Gonzaga Belluzo. Mas Biondi era a voz mais contundente contra os desmandos da equipe econômica tucana.

No dia 2 de julho de 1994, portando, um dia após a implantação do Real, Aloysio Biondi produz o primeiro, de uma série de artigos críticos que irá imputar ao plano. “Os verdadeiros ‘vilões’ do real”, é o título que abre a página 9 do DM. O comentário se baseia na entrevista não autorizada do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, conhecida a época como o “escândalo da parabólica”. Numa conversa informal com o jornalista Carlos Montenegro, os estúdios da Rede Globo, em Brasília, Ricupero fez inconfidências sobre o real, entre elas, de que “a gente mostra o que é bom e esconde o que é ruim”. A conversa indiscreta foi captada por telespectadores de Brasília, por meio de antena parabólica e teve grande repercussão na mídia na época..

Na sua abordagem, Biondi critica os cortes no Orçamento Geral da União implementados pela equipe econômica, parte do programa de ajuste protagonizado pelo real. Na entrevista, Ricupero admite que o governo estava atrasando a votação do orçamento de 1994 para cortar gastos através de um ardil constitucional: “quando o orçamento não está aprovado, o governo pode gastar somente um doze avos, isto é, o orçamento dividido em doze fatias iguais, por mês”. Sem correção monetária, sentencia Biondi, a execução deste orçamento implica num corte indireto nos gastos com saúde, educação e custeio da máquina, produzindo, ganhos para o governo com a inflação.

 

Desindustrialização

A especulação no mercado financeiro e a abertura da economia brasileira às importações também estão na mira do ex-editor-geral do Diário da Manhã: “As empresas, ao importar, não precisam mais apresentar documento, ao governo, provando que os preços que estão pagando são justos. isto é: a filial de uma multinacional pode importar peças da matriz por um preço de 100 dólares, embora seu valor verdadeiro seja 50 dólares. A matriz “lucra” 50 dólares por peça, e o Brasil perde esse dinheiro. Bilhões de dólares, no final das contas remetidos disfarçadamente para a matriz. E mais: a matriz, com o superfaturamento, aumenta seu lucro lá fora — e paga mais Imposto de Renda ao governo de seu país. A filial, aqui no Brasil apresenta um prejuízo (ao declarar um custo artificial para as peças) – e não paga IR ao governo brasileiro”(Biondi, Aloysio Quando o real vale mais que o dólar, jornal Diário da Manhã, 4/9/1994,  pág. 9,).

“As importações estão dando “saltos” porque o governo brasileiro foi, exatamente como no México, abrindo o mercado brasileiro, reduzindo controles sobre o funcionamento da indústria. Mais claramente: durante muitas décadas, a indústria automobilística — por exemplo — era obrigada a comprar a maioria das peças aqui dentro, de fornecedores brasileiros. Entenda bem, não era proibido importar essas peças, mas os impostos para comprá-las, la fora, era tão alto que as filiais das multinacionais eram forçadas a recorrer a indústria local… Em síntese, o que levou o México para o buraco foi todo um modelo de “abertura” da economia, imposto pelos países ricos e Fundo Monetário Internacional. O que ameaça levar o Brasil para o mesmo buraco é esse mesmo modelo” (Se os brasileiros não forem à guerra, jornal Diário da Manhã, pág. 9, 1994).

Com quatro anos de antecedência, portanto, o analista advertia para os riscos do modelo único de desenvolvimento imposto pelo consenso de Washington à América Latina e países emergentes: abertura indiscriminada às importações e ao capital externo, desregulamentação da economia e paridade entre moeda nacional e dólar.

 

Ensinamentos

Biondi na redação do Diário da Manhã em 1995

Biondi deixou o Diário da Manhã no final de 1995. Fincou o pé numa coluna semanal, às quintas-feiras na Folha de S. Paulo e depois passou a ser articulista do jornal Diário Popular (SP) e das revistas Caros Amigos (SP) e Bundas (RJ). Em 1998 produziu em 1998 o livro “O Brasil Privatizado – Um balanço do Estado – Editora Perseu Abramo, SP. Falecido em 21 de julho de 2000, na cidade de São Paulo, teve publicado pela Perseu Abramo,  pós-mortem “O Brasil privatizado II – O assalto das privatizações continua”.

Numa de suas últimas entrevistas, à revista Caros Amigo, número 19, de outubro de 1998, Biondi prenunciava: “Somos a bola da vez desde maio. Já quebramos. Com esses juros malucos, você vai gastar quase 90 bilhões de juros por ano! Que corte você vai fazer? Acho até bendita a crise, porque você vai mexer com as importações, logicamente vai criar emprego de novo e até ressuscitar empresas. Não precisa daquele nível de investimento para criar emprego porque as máquinas estão aí, paradas”.

Com faro apurado para notícia e experiência de 44 anos de jornalismo econômico, Biondi deixou uma última lição para os jovens jornalistas da área:

“A Gazeta Mercantil, às segundas-feiras, reproduz aqueles dados da revista The Economist, sobre a situação das economias mundiais. Se o jornalista econômico tivesse o hábito de olhar a tabela, veria alí, por exemplo, que os tigres asiáticos já se recuperaram, a Coréia está com superávite na balança comercial de 25 bilhões de dólares em doze meses. O jornalismo econômico é como o jornalismo policial é fragmentado. Dá o momento de recorde e o momento de grande crise. Depois não se fala mais nada e todo mundo fica pensando que só tem crise. Que é o fim do mundo”.

 

 

Brasil Privatizado: a farra com dinheiro do povo

Aloysio Biondi sabia ler nas entrelinhas de cada medida tomada pela dupla econômica do presidente Fernando Henrique Cardoso: Pedro Malan (Ministro da Fazenda) e  Gustavo Franco (presidente do Banco Central). Por isto revelou ao país que o desmonte de empresas públicas era feito, pasmem, com dinheiro do contribuinte! “”O governo diz que o Tesouro está quebrado, usa essa desculpa para doar as estatais e depois arruma dinheiro para os compradores”,denuncia.

Biondi revela que antes de vender as empresas telefônicas, o governo de Fernando Henrique Cardoso investiu E$ 21 bilhões no setor, em dois anos e meio. Depois vendeu tudo por uma “entrada” de R$ 8,8 bilhões (ou menos), porque financiou metade da entrada para grupos brasileiros.

Na venda do Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj), o “comprador” pagou apenas R$ 330 milhões e o governo do Rio, comandado pelo governador Marcelo Alencar (PSDB) tomou, antes, um empréstimo dez vezes maior, de R$ 3,3 bilhões, para pagar direitos dos trabalhadores.A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) foi comprada por R$ 1,05 bilhão, dos quais, R$ 1,01 bilhão em “moedas podres”.

“A privatização brasileira é assim: o governo financia a compra, aceita moedas podres, a longo prazo, financia investimentos(até a Light recebeu empréstimo de R$ 730 milhões em 1998). E para aumentar os lucros dos compradores o governo engole dívida bilionárias, demite funcionários, aumenta tarifas e preços antes da privatização”, resume.

O Brasil Privatizado, volumes I e II pode ser acessado no site da Fundação Perseu Abramo: http://www.fpabramo.org.br/uploads/Brasil_Privatizado.pdf

Acesse também o PDF:

Livro Brasil_Privatizado

 

 

Biografia

Aloysio Biondi e o também saudoso jornalista Isanulfo Cordeiro na redacao do DM nos anos 1980

Aloysio Biondi (Caconde1936 — São Paulo21 de julho de 2000) foi um jornalista econômico brasileiro.

Atuou durante 44 anos de exercício profissional, nas principais redações da imprensa brasileira.

Nos anos anteriores ao seu falecimento (2000), aos 64 anos, destacou-se pelo trabalho na imprensa alternativa, com a qual colaborou durante toda a vida (com destaque para o período em que foi colaborador do jornal Opinião, na década de 1970).

Também é autor do livro O Brasil privatizado – Um balanço do desmonte do Estado, onde critica as privatizações feitas no governo Fernando Henrique Cardoso, alcançando a marca de mais de 125 mil exemplares vendidos.

Nascido em Caconde e criado em São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo, Biondi começou sua carreira em 1956, na Folha da Manhã, que posteriormente daria origem à Folha de S. Paulo.

Trabalhou também na Gazeta MercantilJornal do Commercio (RJ), Diário do Comércio e Indústria (DCI-SP), Correio da Manhã (RJ), Diário da Manhã (GO) e revistas Veja e Visão. No Diário da Manhã, em Goiânia, trabalhou junto a Washington Novaes em um dos mais interessantes e inovadores projetos do jornalismo brasileiro, ainda desconhecido. Foi vencedor de dois Prêmio Esso. Em 1967, pela revista Visão, e em 1970, pela Veja.

Conforme escreveu o também jornalista Jânio de Freitas, em artigo por ocasião da morte do colega “Biondi não frequentava ministérios, bancos, gabinetes estatais, rodas de grandes empresários. E, no entanto, jamais um jornalista soube de modo tão completo quanto ele, e duvido que algum dia outro venha a saber, o sentido real, os pormenores e as consequências das decisões econômicas e monetárias”.

 

Leia também:

Biondi, a morte de um mestre, por Luis Nassif

 

‘Privataria Tucana’: livro de Amaury mostra que Serra montou esquema comparável ao de Maluf, diz Nassif

 

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As sete filhas de dona Chiquinha

Mulheres fortes, altivas, de caráter. Artigo em homenagem ao Dia da Mulher conta a história de uma família cujas mulheres enfrentaram o machismo de seus maridos e o preconceito da sociedade nos anos 1940, 1950 e 1960 e da necessidade dos homens saírem do pensamento do século XIX para pôr os pés no século XXI.

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Dois meses de governo Caiado: erros, acertos e a necessidade de corrigir rumos

O Jornal Onze de Maio estreia parceria com o portal Diário de Goiás, com a publicação de artigos do jornalista Marcus Vinícius de Faria Felipe. Nesta segunda ele estreia com análise sobre os primeiros dois meses da administração do governador Ronaldo Caiado (DEM). Confira:

 

 

Dois meses de governo Caiado: erros, acertos e a necessidade de corrigir rumos

Por Marcus Vinícius

A administração do governador Ronaldo Caiado (DEM) chega nos seus primeiros 60 dias dando a impressão de que o governo ainda não tem claro todas as suas prioridades. Até aqui tem sido um governo de sinalizações. Algumas positivas, outras nem tanto.

O atraso da folha de dezembro, por exemplo, foi mal explicado para servidores e para a população. Afinal, o governo atual não pagou por que não quis ou porque o governo anterior não empenhou a folha? E se o ex-governador José Eliton (PSDB) não empenhou, porque não foi questionado pelo governo atual junto ao Ministério Publico Estadual? O que há de verdade nas negociações com o ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre suposta aconselhamento de adiar o pagamento de dezembro para que as contas de Goiás ficassem no azul, permitindo assim aos técnicos da Secretaria do Tesouro Nacional concederem empréstimo ao governo goiano?

Este episódio da folha de dezembro desgastou o governador junto aos servidores públicos justamente porque faltou uma estratégia clara por parte do governador em esclarecer os fatos. O governo tem nestes primeiros meses passado a impressão de que tem boa vontade, mas age com voluntarismo. Um exemplo: o governo acerta ao corrigir distorções históricas na Educação, na Segurança Pública e em ouvir o Sindfisco. Mas até agora, não soube capitalizar dividendos desta atuação.

Educação
Um dos maiores acertos do governador Ronaldo Caiado é o projeto de garantir o pagamento do Piso Nacional da Educação (em torno de R$ 2.400,00) para os professores que trabalham no chamado contrato temporário. Há duas décadas (20 anos!) não há concurso público para professor e para os trabalhadores que prestam serviços gerais nas escolas da rede estadual de ensino. E nestes 20 anos os governos tucanos de Marconi Perillo e Zé Eliton optaram pelo contrato precarizado de professores, o chamado Contrato Temporário. Provalemente até hoje tem contrato temporário que recebe no contracheque R$ 1.100,00. E não são poucos, considerando o que o próprio governador disse, em entrevista à imprensa onde anunciou o projeto, que está sendo analisado pela Assembleia Legislativa:

“Nós temos hoje 21.131 contratos temporários de professores, e temos 19.596 efetivos, ou seja, mais de 50% de toda a rede os professores são contratos temporários”, comentou.

No mesmo pacote enviado aos deputados estaduais está sendo feita outra justiça em relação aos profissionais de Educação, que é a de regulamentar o pagamento do Auxílio Alimentação de R$ 500,00, que também será pago aos servidores de outras categorias, até o teto salarial de R$ 5.000,00.

Segurança
A decisão de acabar com o chamado “policial de terceira classe” na Polícia Militar do Estado de Goiás (PMGO) e no Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás (CBMGO) também foi acertadíssima. Um total de 2.022 PM’s , 228 bombeiros; além de escrivães e agentes da Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO) com cerca de 400 servidores, também serão beneficiados pelo projeto de Lei.

Fisco
Governo só funciona se tiver dinheiro. E o caminho é reestruturar a política de arrecadação, incentivos fiscais e de combate à sonegação. O governador Ronaldo Caiado faz muitíssimo bem em ouvir o SindFisco, que tem uma proposta coerente para combater a evasão fiscal estabelecida com a farra dos incentivos fiscais. Os incentivos, que são necessários, tiveram o fim distorcido pelo comércio desregulado de créditos de ICMS que usurpam a receita do Estado. Estas distorções provocam imensas injustiças com pequenas, médias e grandes empresas que não foram incluídas nesta mamata que rolou solta nos governos Marconi-Zé Eliton e só foi combativa efetivamente na passagem de Alcides Rorigues no governo do Estado e de Jorcelino Braga e Célio Campos na Secretaria da Fazenda.

Comunicação
Embora, como disse anteriormente, o governador Ronaldo Caiado tenha demonstrado boa intenção em resolver problemas graves e gargalos antigos na administração e na máquina de arrecadação, o governo tem errado no modo de abordar estes problemas, e principalmente, na forma de anunciar estes conflitos e as suas soluções. Faz falta ao governador a moderação que exibiu durante a campanha, onde certamente suas falas eram calculadas de acordo com a estratégia exigida para se chegar ao resultado vitorioso, que foi confirmado pelas urnas ainda no primeiro turno.

No governo, Caiado se comporta ainda como o parlamentar combativo que marcou sua trajetória política do que como o conciliador, que esteve subiu nos palanques na jornada eleitoral de 2018. Exercitar menos Carlos Lacerda e se mirar mais no exemplo de Charles D’Gaulle, fariam bem ao governador.

Charles André Joseph Marie de Gaulle foi o general que liderou a Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial. Foi presidente do governo provisório da França (1944-1946). Foi eleito o 18º presidente francês e governou o país num momento de ebulição política (1958-1969), período no qual negociou o fim da guerra civil na Argélia, pactuando a independência do país africano. Conviveu com as greves operárias e estudantis de 1968, vencendo aquelas eleições, fazendo maioria no Parlamento francês..

Nacionalista, retirou as reservas de ouro da França, que estavam depositadas Fort Knox, nos Estados Unidos, e incentivou a industrialização do país. Na França do seu tempo dizia-se: “A França para para ouvir D´Gaulle. O general tinha por hábito falar pouco e só se pronunciar quando já tinha maturado a o assunto, só então fazia o anuncio de uma decisão política. Talvez falte ao governo Caiado esta habilidade na tomada de decisões, e até, porque não dizer, a obediência à liturgia do cargo.

Os 20 anos de marconismo foram de muita pirotecnia. Marconi acertou várias vezes, mas errou muito também, porém tinha rapidez para corrigir os erros e uma máquina de comunicação que ajudava a limpar “as merdas” que ficavam pelo caminho. Só a título de exemplo, no período de 2002-2006 o governo Marconi investiu R$ 520 milhões em comunicação, orçamento que só seria superado por Estados do Sudoeste e pela própria União.

Diálogo
Quanto mais exercitar o diálogo com a sociedade civil, sindicatos patronais e de trabalhadores, com deputados e lideranças politicas, maior será a capacidade de acerto do governo. Esta deveria ser uma diretriz para todo o secretariado. Aliás, poucos secretários falam o nome do governador quando estão anunciando projetos. Alguns dão a impressão de que são tão importantes que nem consultam o governador quando tomam decisões e as comunicam à imprensa.

Patrulhamento
O marconismo, que durou 20 anos, assim como o irismo, que conduziu por 16 os destinos de Goiás, deixaram legados positivos e negativos, como o fazem qualquer governo. Todo um time de técnicos foi treinado durante estes períodos. Há nas duas escolas excelentes profissionais. O antigo Dergo, que deu origem ao Crisa, foi uma grande escola de formação de engenheiros, num Estado que tem uma das maiores malhas viárias do país. Na Fazenda, a maioria dos servidores concursados assumiram durante este período, e são profissionais altamente capacitados.

Não é fácil tomar posse de um governo após 20 anos de mandonismo de um só grupo político. Não foi fácil aos presidentes eleitos conviver com o entulho autoritário da ditadura, que até hoje ainda tem ecos no país. Mas é preciso ir em frente e não ficar vendo fantasmas no retrovisor.

Já estive no governo e como ex-presidente da antiga Agecom(hoje ABC) dou testemunho dos excelentes profissionais com os quais convivi, neste período. Cito, para fazer justiça, Rosane Lousa, a época diretora de Radiojornalismo, responsável pelas equipes de jornalismo da TV Brasil, RBC FM e AM. Esposa do ex-secretário municipal e ex-chefe de Gabinete da Governadoria, Olier Alves (PSDB), a jornalista Rosane Lousa, que é concursada do antigo Cerne (embrião da Agecom e a ABC), é um exemplo de profissionalismo e dedicação ao serviço público. Outro nome que merece registro é de Francisco Taveira Neto, que fez exitosa gestão na presidência do Ipasgo. Aberto ao diálogo, sempre ouviu e levou em conta a opinião dos servidores públicos, mantendo a porta aberta aos presidentes dos sindicatos das mais diversas categorias no Estado.

É preciso tem cuidado com o patrulhamento. O presidente Jair Bolsonaro está promovendo um desmonte em áreas estratégicas como Casa Civil, Itamaraty, Fazenda (Economia), Agricultura e Meio Ambiente, e os resultados tem sido terríveis para o Brasil. Vide os cancelamentos de importações da China, Rússia, Europa e países árabes (graças ás falas tresloucadas do chanceler Ernesto Araujo), a tragédia de Brumadinho ou as dificuldades do governo em aprovar qualquer coisa no Congresso Nacional.

O decano Roberto Balestra (PP), do alto dos seus oito mandatos consecutivos como deputado federal dizia que “política é bico calado e pé ligeiro”. A fala de um Executivo tem peso grande demais. As decisões, mais ainda. A história indica que a parcimônia no uso das duas garantem resultados melhores.

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Arquivo 2012 Artigo Política

Marx diria: STF serve às elites, estúpido!clique aqui

Além de filósofo, economista e “pai do comunismo”, Karl Marx batia um bolão como jornalista. No próximo 25 de outubro completa-se 151 anos de uma das análises mais contundentes sobre a Guerra da Secessão. O texto foi escrito por Marx para o Die Presse, um diário austríaco burguês de tendência liberal, e mostra como a Corte Suprema dos Estados Unidos se tornou o último bastião das elites escravistas do Sul contra os brancos livres do Norte.

As elites sulistas se valiam de seu domínio sobre o Congresso Norte-Americano para manter e ampliar o regime escravagista. Esse poder, no entanto, erodia-se devido ao crescimento acelerado da população dos estados do Norte e Nordeste, não escravistas. Como a representação na Câmara dos Representantes é ligada à população dos estados, e as populações dos estados livres cresciam acima daquela dos estados escravistas, as elites escravistas perdiam gradativamente o controle da Câmara e dependiam cada vez mais do Senado, onde cada estado, independente da população, tinha dois representantes.

Ocorre que os senhores de escravos também estavam perdendo o controle do Senado e para manter o status quo se valeram da JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA. Notou aí semelhanças com as elites do Brasil? Sim, as elites norte-americanas recorreram à Corte Suprema dos EUA para garantir seus privilégios, e foram os Juízes Supremos, que segundo Marx, deram veredicto pela escravidão:

  “Ela (Corte Suprema) decidiu, em 1857, no notório caso Dred Scott, que todo cidadão americano possui o direito de levar consigo para qualquer território qualquer propriedade reconhecida pela Constituição. Consequentemente, com base na Constituição, os escravos poderiam ser forçados pelos seus donos a trabalhar nos territórios. E assim todo senhor de escravos estaria individualmente habilitado a introduzir a escravatura em territórios até agora livres conta a vontade da maioria dos colonos. O direito de eliminar a escravidão foi tirado das legislaturas territoriais e o dever de proteger os pioneiros do sistema escravagista foi imposto ao Congresso e ao governo da União (pela Corte Suprema)”.

Luta de classes

No Brasil, desde a eleição do presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT), as elites conservadoras, que se valeram do Golpe Militar de 1964 para chegar ao poder, têm perdido gradativamente espaço na Câmara Federal e no Senado. O DEM (ex-PFL, ex-PDS, ex-Arena), desmilinguiu-se. No período(1995-2002) de governo do presidente Fernando Henrique Cardoso(PSDB) o partido chegou a ter 105 deputados federais e 17 senadores na legislatura de 1999. Os eleitos em 2010 foram 4 senadores e 43 deputados, número que reduziu-se a 28, pela migração para outras siglas como o PSD.

Em 2004 o PFL tinha 6.460 vereadores. Em 2012 o DEM reduziu-se a 3.271, ou seja 3.189 vereadores a menos! Em 1996, o PFL elegeu 934 prefeitos, saltou a 1.028 no ano 2000 e em 2012, o DEM elegeu somente 271, ou seja 757 prefeitos a menos!

Até o segundo mandato do presidente Lula, o equilíbrio de forças no Senado era desfavorável ao petista. Com a eleição de sua sucessora, a aliança trabalhista formada por PT-PMDB-PSB-PC do B-PDT e outros partidos, passou a ter domínio no Congresso Nacional.

A presidenta Dilma Roussef assumiu com uma bancada de 311 votos(de 513) na Câmara Federal e de 50(de 81) no Senado. Assim como Karl Marx testemunhou a JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA via Corte Suprema nos EUA –  numa reação conservadora à perda de comando no Legislativo –  o Brasil assiste movimento similar, no STF que se expressa com mais vigor no julgamento da Ação 470, o dito, “Julgamento do Mensalão”.

Exagero? Não.

O que justifica que no julgamento do publicitário Duda Mendonça os ministros do Supremo Tribunal Federal tenham considerado lícito o pagamento de seus serviços na campanha de 2002, com recursos oriundos do Banco Rural, mas em relação aos empréstimos feitos no mesmo banco, para pagamento de despesas de campanha no PR, de Waldemar Costa Neto, no PP, de Pedro Henry, ou pelo PT de Delúbio Soares e José Genoíno, o mesmo dinheiro do Banco Rural transformou-se em “corrupção passiva” e lavagem de dinheiro?

Não houve, nos dois casos, pagamento de despesas de campanha?

Por que apesar da ausência completa de provas no relatório da Procuradoria Geral da República, os chamados “réus do núcleo político” foram condenados com base no “Fato Motivador”, no entanto, apesar do esculacho do ministro Joaquim Barbosa contra o procurador Roberto Gurgel, pela PGR não ter produzido provas contra Duda Mendonça, o empresário não foi enquadrado no mesmo “Fato Motivador”?

O Fato Motivador só se aplica a Puta, Preto, Pobre e Petista, como diria o ator José de Abreu?     Por que o caixa dois do PSDB, o chamado “Mensalão Tucano”, efetivado na tentativa de reeleição do governador Eduardo Azeredo em 1998, teve seu processo desmembrado para julgamento em 1ª e 2ª instâncias, enquanto o “mensalão do PT” teve direito a apenas uma instância de julgamento?     Por que o ministro relator, que colheu as provas na fase de inquérito, também participa do julgamento, tal e qual nos Tribunais da Inquisição?

As respostas estão novamente na análise cento-cinqüentenária de Karl Max: as elites, quando perdem o poder popular, recorrem aos últimos nacos de poder que controlam: seus pares no judiciário e às armas.

Em 1860 foram à guerra contra Lincoln. Em 1964, ao golpe contra Jango. E em 2012, ao STF contra Lula e o PT.     Nos EUA, os aristocratas do Sul, no Brasil, os Barões da Mídia a comandar a Corte Suprema.

Ah, diriam alguns, mas o relator da Ação 470, Joaquim Barbosa é um filho do povo, um ministro cujo pai era pedreiro, que veio do interior do país, de Paracatu-MG. Sim, de lar humilde, mas, ao que tudo indica, sem compromissos com sua classe de origem, pois somente isto justifica sua frase: “Presidente, o Supremo Tribunal Federal não tem que dar satisfação a ninguém!”.

Se o Supremo como Poder da República, segundo o ministro Barbosa, não deve satisfações ao povo, é porque do povo está divorciado. Se a Corte Suprema Brasileira não está casada com o povo que banca neste ano de 2012, com impostos, os R$ 614,073 milhões aprovados na LDO para manutenção do STF, cumpre a este povo perguntar: a quem serve o STF?   Marx responderia: “Serve às elites, estúpido”!

Publicado também no site Brasil247 e no blog Terror do Nordeste em 18/10/2012