Há 40 anos atrás, em 1982, o povo votou maciçamente no MDB para tirar generais do poder, em 2022 eleitor sinaliza outra vez com voto útil no principal partido de oposição, no caso atual o PT, para pôr fim ao período bolsonarista
Marcus Vinícius de Faria Felipe
As eleições de 1982, as primeiras onde governadores foram eleitos pelo voto direto (até então eram indicados pelos generais), foram plebiscitárias, marcadas por uma ampla rejeição ao regime dos quartéis. E eu digo que há elementos que fazem 1982 se repetir, em parte, nas eleições vindouras de 2022.
Naquele pleito, 40 anos atrás, o eleitor rejeitou veementemente os candidatos a governador apoiados pela ditadura, derrotando o regime dos quartéis nos principais colégios eleitorais.
O PMDB elegeu os governadores de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo, Goiás (Iris Rezende com 80% dos votos válidos), Mato Grosso do Sul, Pará, Amazonas e Acre, e o PDT, do combativo Leonel Brizola, venceu no Rio de Janeiro.
Na Câmara Federal, a oposição (PMDB, PT, PDT) elegeu 241 deputados, o PDS e o PTB, partidos de apoio à ditadura, 248, consolidando o grito de mudança da população.
O general João Figueiredo, ditador de plantão, guardava inúmeras semelhanças com o ex-capitão Jair Bolsonaro: detestava a imprensa, não entendia nada de economia, não gostava de povo (preferia cavalos, Bolsonaro gosta de motos) e não tinha nenhum traquejo político.
Voto útil
Mas apesar de chucro, Figueiredo tentou uma jogada: o voto vinculado, que obrigava a escolher candidatos de um mesmo partido para todos os cargos em disputa (governador, senador, deputados federais e estaduais), sob pena de anular seu voto. O feitiço, no entanto, virou-se contra o feiticeiro.
Na prática, o voto vinculado beneficiou o PMDB. Visto pela população como o maior partido de oposição e o único em condições de derrotar o regime militar, o PMDB foi o beneficiário do chamado voto útil.
Nesta semana as pesquisas dos principais institutos do país (Ipec e Datafolha) mostraram que o ex-presidente Lula (PT-SP) tem chances reais de vencer as eleições no primeiro turno. Os levantamentos também apontam um teto baixo para o presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ), entre 19% a 22%, e que a chamada Terceira Via morreu na praia com o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos-PR) oscilando entre 5% a 8%; o ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE) entre 3% e 6% e o governador João Dória (PSDB-SP) com desempenho de candidato nanico: 2% a 3%. Este cenário objetivamente demonstra que o eleitor escolheu o ex-presidente Lula para derrotar o presidente Bolsonaro.
Em 1982 o povo queria derrotar os generais e o voto útil potencializou os candidatos do MDB, sendo a única exceção o Rio de Janeiro de Leonel Brizola, onde o PDT é quem capitalizou este efeito anti-ditadura. As eleições de 2022, portanto, caminham para repetir o mesmo feito de 40 anos atrás, com voto útil caminhando para eleger Lula para o seu terceiro mandato.
Eleição da fome
Ainda no campo das semelhanças, em 1982 o Brasil também tinha gente passando fome nas ruas, estagnação econômica e inflação e dólar em disparada. A falta de sensibilidade social dos generais, assim como ocorre com o ex-capitão tiveram do povo a resposta das urnas.
Datafolha esvazia Bolsonaro e 3ª via
Outro ponto a semelhante entre 1982 e 2002, é o esvaziamento do governo. . O povo queria mudanças e o regime militar começou a sofrer severas baixas nas suas fileiras políticas, assim com ocorre com Bolsonaro hoje.
Em Goiás, diversas lideranças deixaram a Arena/PDS, para ingressar nas fileiras do MDB/PMDB, entre elas, o ex-governador Irapuam Costa Júnior, os ex-prefeitos de Morrinhos, Naphtali Alves e Helenês Cândido e o vereador jataiense Maguito Vilela. Todos eles viriam a apoiar a candidatura de Iris Rezende Machado (MDB) ao governo do Estado. Irapuam foi eleito deputado federal, e Maguito, deputado estadual.
Lula costura aliança com setores de centro e centro-direita à sua candidatura, tendo como ponto de atração a aliança com o ex-governador Geraldo Alckmin à sua chapa como candidato a vice. A pesquisa Datafolha mostra que a estratégia do petista está correta, pois 70% dos eleitores entrevistados aprovaram a chapa,16% disseram que a associação com Alckmin aumentaria a possibilidade de voto em Lula e apenas 11% afirmaram que o ex-governador de São Paulo reduziria a chance de apertar 13 nas urnas no ano que vem.
Entre os que declaram voto em Lula, 24% afirmaram que a chapa reforçaria a intenção, enquanto 9% se disseram desmotivados. Para os eleitores de Jair Bolsonaro: 4% dizem que aumentaria a chance de votar em Lula; para 9%, diminuiria. Eleitores de Moro: 12% dizem que aumentaria a chance; para 9%, diminuiria. Eleitores de Ciro Gomes: 13% dizem que aumentaria a chance; para 16%, diminuiria.
Os números do Datafolha atiçaram os deputados do PDT de Ciro a propor a retirada de sua candidatura e uma aliança com Lula. Os parlamentares do Podemos também pensam em mandar Moro às favas para poderem cuidar de suas reeleições. Este rearranjo deve repercutir nos Estados, possibiltando aliança entre esquerda e centro-direita para os governos locais.
Os sinais estão no ar. Resta a urna confirmar a tendência, e tudo indica que confirmará.